Como alguns sabem, sou professor. Uma profissão que, embora nobre, vive uma crise. Dentre os desafios, chamo atenção para um, conectado diretamente ao texto, bastante pertinente: a dificuldade de retermos nossa atenção e ficarmos em silêncio. Inclusive, alguns pesquisadores apontam que o barulho pode ser um fator desencadeante de distúrbios na aprendizagem, um terrível problema, não é?
A questão não é pertinente apenas para professores. Ela é para toda a sociedade, até mesmo para a igreja. A falta de atenção e de silêncio é fonte de muitos maus entendidos e ruídos de comunicação. Pensando sobre a relação disso com a espiritualidade, o filósofo Byung-chul Han, que é católico, afirma: “se não estivéssemos distraídos, estaríamos com Deus” e “Não conseguimos mais orar, pois estamos constantemente bombardeados por ruídos.”

As distrações e estímulos exagerados têm nos tomado e desviado a atenção, em alguns casos até mesmo nos adoecido. Perdemos o foco daquilo que Deus é, do que Ele faz e de onde Ele se encontra, mesmo quando estamos na igreja, tal como os fariseus estavam inseridos na religiosidade da época. Byung-chul Han escreve palavras que resumem bem o panorama atual: “A crise da religião é uma crise de atenção, uma crise de visão e de audição.”
Aparentemente, a crise de atenção, embora intensificada e ampla hoje, não é algo totalmente novo. O texto bíblico nos permite dizer que os fariseus também sofriam de uma crise severa de atenção, além de possuírem uma disposição exagerada para falar no lugar de uma postura humilde voltada ao aprender. Em outras palavras, estavam cegos e surdos, por isso, mesmo ignorantes de sua condição.
Eles deixavam-se tomar pela compreensão de um ser humano ideal. Criavam uma imagem de Deus e dos seus servos, partindo de suas próprias reflexões. Tomados por seus pensamentos, não paravam de falar e, consequentemente, não tinham espaço para aprender. Neste sentido, o seu zelo era orgulho e suas falas expressão da falta de sabedoria, verdadeiras produtoras de abismo. A conduta deles, descrita no texto, parece explicitar algumas perguntas: pode alguém aprender algo se não der ouvidos a algo além de sua própria sabedoria e voz? Qual doente pode ser tratado senão aquele que reconhece a necessidade do tratamento?
Melhor fazem os discípulos em seu silêncio, assim como também Mateus e os demais pecadores que atentaram para o que de fato importava. Aqui, talvez escondido entre as outras riquezas do texto, está um grande tesouro, uma grande lição para todos nós: no silêncio, nós aprendemos e testemunhamos o agir de Jesus. Ao voltarmos nossa atenção para Deus, estamos e somos alcançados por Jesus. Em um mundo que impõe-nos um status de desempenho constante, você está disposto a sentar, ouvir e reconhecer que suas obras não possuem condições e não são suficientes para religarem você ao que é verdadeiramente bom e perfeito?
Não devemos perder tempo falando e se perdendo em mil e um estímulos. Não devemos gastar nosso tempo tentando transpor limites que não existem, buscando prazeres irreais em redes sociais ou buscando por meio de religiosismos uma autojustificação. Tudo isso é vaidade e absoluta perda de tempo. A refeição que é descrita no texto é uma poesia sobre deixar a lógica do mundo para trás. Representa uma verdade que nos passa desapercebida: é necessário estar desatento ao mundo.
Todos, sem exceção, devem compreender a seguinte lição: é preciso fechar os olhos para ver, parar para chegar, reconhecer que não sabemos e silenciar para aprender. Tal como um professor que chega para uma aula, Jesus está na sala da nossa vida e já começou a ensinar. Só nos resta, portanto, fazer como os discípulos e não seguir o exemplo dos fariseus: sentar, ouvir, aprender e sermos transformados pela graça que nos está disponível em um banquete chamado evangelho de Deus.


