O Silêncio.

Me tranco no banheiro. Cavo no azulejo um momento. Lá fora, a moto, a música que anuncia um culto pentecostal, o ruído de um filme. Faz calor no entardecer dominical.
Sentindo o peso no peito,
A secura no nariz,
Escrevo pelo celular.
Penso no exercício do curso de teologia: uma passagem bíblica onde os discípulos estão presentes, mas não falam, apenas observam. A mente rodopia e me leva à última aula. Alunos dispostos a falar sobre qualquer coisa, mas resistentes a ouvir.
Eles são um sintoma.
Eu sinto.
Sinto muito.
O que se vive e o que se sente — como os minutos que aceleram em um domingo à noite — só ganham verdadeira proporção na crueza da ausência de palavras.
A palavra,
A voz,
Uma katana.
Respiro. A vida ativa chama. Preciso sair do forno do banheiro. Termino este texto e penso que seja irrelevante. Melhor assim. O que importa não é o texto, mas o que o sustenta.
Rodopio… O domingo tem disso.
Quando se abre mão do silêncio, do que se abre mão? Quantas coisas são perdidas ao não se parar de falar? O silêncio, tão subestimado nos nossos dias, é fundamento para o aprendizado. Abro a porta. Volto ao mundo e medito:
Calar para sentir.
Silenciar para viver.
Contemplar.


